Graciosa foi inaugurada oficialmente em 1873. Embora a Estrada da Graciosa não seja em si tombada, o trecho paranaense da Serra do Mar pelo qual a via atravessa teve seu tombamento efetivado pelo Governo do Estado em agosto de 1986
Portal marca o início da descida da Estrada da Graciosa. Imagem: Agência Estadual |
O trecho paranaense da Serra do Mar abriga as maiores
elevações do centro-sul do Brasil, como o Pico do Paraná e seus 1.992 metros de
altitude. Popularmente conhecida como Cordilheira da Marinha, essa cadeia
montanhosa foi o grande obstáculo entre o Litoral e o planalto paranaense. Há
mais de 350 anos, os indígenas utilizavam diversas trilhas para cruzar a Serra
do Mar. Esses caminhos na Mata Atlântica eram usados em tempos de colheita do
pinhão. A Graciosa era uma dessas trilhas, embora ainda não tivesse esse nome.
No século XVII, colonizadores e jesuítas se estabeleceram no
Paraná e o então chamado Caminho da Graciosa tornou-se uma via essencial para o
transporte de insumos e mercadorias entre Curitiba e as cidades litorâneas. A
estrada era uma popular rota de tropeiros e foi considerada o caminho mais
seguro para o transporte de cargas pesadas. Ainda assim, a Estrada Graciosa era
um caminho estreito e grosseiro, calçado em um dos relevos mais hostis do
Brasil.
+Veja também: Conheça a Estrada da Graciosa, uma das mais belas do Brasil
Somente em 1854, após a emancipação da Província do Paraná,
o imperador Dom Pedro II autorizou a construção de uma estrada estadual ligando
Curitiba a Antonina. O Caminho da Graciosa serviu de guia para a nova obra que
tornaria a via carroçável, concluída em 1873.
O engenheiro civil Paulo Sidnei Ferraz, membro do Conselho
Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico, aponta as inúmeras dificuldades
durante a construção, a começar pelo próprio projeto. “Dez engenheiros
trabalharam durante 19 anos para que essa obra fosse concluída”, afirma. Dentre
os motivos que prolongaram a construção, destacam-se a densa floresta, os
ataques de animais, doenças dos operários e brigas políticas.
A Graciosa, como rota logística, presenciou a passagem de
produtos de importação e exportação, principalmente o café, que foi elemento
econômico essencial para o Estado. Além disso, foi via de passagem de
políticos, viajantes e imigrantes, que chegavam ao Paraná pelos portos de
Antonina e Paranaguá. Ferraz conta que, em visita ao Paraná, em 1880, a
comitiva do Imperador Dom Pedro II subiu e desceu a Graciosa de carruagem.
Uma das diversas curvas em meio à natureza na Estrada da Graciosa. Foto: Foca na Folga |
Até meados do século XX, a Estrada da Graciosa foi a única rodovia pavimentada a ligar Curitiba ao Litoral. Com a abertura da BR-277, a Graciosa passou a servir principalmente como via turística. As curvas sinuosa se a proximidade com a natureza a tornaram um popular destino turístico. Hoje, já pavimentada, reúne espaços históricos relevantes, como pontes, igrejas, recantos e monumentos.
Para Paulo Ferraz, a Estrada da Graciosa é uma relíquia para
a história do Estado. "Sua relevância serve de instrumento de preservação
para os visitantes. Acredito que a preservação e normatização do uso da Estrada
da Graciosa podem potencializar o turismo contemplativo e fortalecer a economia
das cidades do litoral”, afirma.
Patrimônio
cultural
Segundo Aimoré Índio do Brasil Arantes, historiador da Coordenação
do Patrimônio Cultural (CPC) da Secretaria de Estado da Cultura (SEEC), a
origem de todos os caminhos da América é indígena. Os chamados caminhos
pré-colombianos tiveram uma grande contribuição da sabedoria dos povos
indígenas para sua criação. “O homem branco europeu não tinha conhecimento
suficiente para desbravar as novas terras”, diz.
A Estrada da Graciosa está inserida na Serra do Mar, junto
com outras intervenções humanas, como a Estrada de Ferro Paranaguá-Curitiba. A
Serra do Mar é um bioma rico em biodiversidade, estendendo-se do Rio Grande do
Sul ao Rio de Janeiro. O cenário atrai aventureiros de todas as regiões do
Brasil.
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Embora a Estrada da Graciosa não seja em si tombada, o
trecho paranaense da Serra do Mar pelo qual a via atravessa teve seu tombamento
efetivado pelo Governo do Estado em agosto de 1986. O tombamento ocorreu
conforme a Lei Estadual 1.211/1953, que dispõe sobre o patrimônio histórico,
artístico e natural do Paraná.
A área também foi reconhecida como patrimônio mundial da
UNESCO e constitui um dos mais belos exemplos de patrimônio cultural, natural e
turístico do Brasil.
“O Caminho da Graciosa, mais do que um patrimônio cultural
dos paranaenses, é um espaço de memória e contemplação”, afirma Aimoré.